quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Estive de boca fechada

Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais boiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
(José Saramago)

4 comentários:

Anônimo disse...

Eh!!!!!

Voltou? Marajá, né!

Que férias!

Estamos curiosos com as novidades da bela Itália?

Vai blogar tudo?

resistência disse...

Definitivamente o poeta é o sal da Terra!Saramago é um dos meus.
Já estava ficando com saudades dos cometários!

PatCentro disse...

Querido anônimo,

Voltei sim, mas marajá tô longe.

Não diria que foram umas férias, diria que foi uma visita investigativa...rs.

Vou blogar sim. Os blogs e comentários dos blogs de Angra.

Pat

PatCentro disse...

Caro Cláudio Carneiro,

Concordo com você sobre os poetas. É sempre luz para minha alma.

Estou lendo "Ensaio sobre a cegueira" e estou amando. Também de Saramago.

Mas tem um livro dele que começei e ainda não consegui terminar, Todos os Nomes" acho que ainda não me tocou, sabe?

Voltei com mais vontade, muito gás para os comentários. Passa pelo blog para lê-los sempre que der, ok?

Um abraço,

Pat